FANY MPFUMO E GILBERTO GIL: rastros de musicalidades transatlânticas
Resumo
Este texto propõe investigar rastros das musicalidades do compositor moçambicano Fany Mpfumo e do compositor brasileiro Gilberto Gil, por meio da comparação de aspectos rítmicos, harmônicos, frasais e instrumentais de suas obras. Para tanto, foi empregada uma metodologia de transcrição auditiva, baseada em autores da etnomusicologia e ancorada por softwares, que nos permitiu registrar em partitura as seguintes canções: Avasati Va Lomu, Nyoxanini, Georgina, Nitakukhoma hi Kwini (de Fany Mpfumo), e Andar com fé, Balafon, Refavela e Tiu Ru Ru (de Gilberto Gil). Partindo do conceito de “rastro/resíduo”, a análise comparativa desse repertório foi norteada por autores que discutiram com profundidade os temas fraseologia e ritmo. Certificando a potência das africanias, através da musicalidade transatlântica, os resultados surpreenderam ao demonstrar os diversos rastros comuns à música dos dois artistas, principalmente no marcante uso de certos padrões rítmicos – tresillo, hemíola, falsa tercina –, que enfim contribuem na construção de complexas redes contrapontísticas.
Referências
AROM, S. African polyphony and polyrhythm: musical structure and methodology. Cambridge: Cambridge University Press, 1991. 668 p.
BAS, J. Tratado de la forma musical. Buenos Aires: Ricordi Americana, 1947. 333 p.
BELTRÁN, L. Consideraciones sobre los estudios afroamericanos y africanos en iberoamérica. In: Los estudios afroamericanos y africanos en América Latina: herencia, presencia y visiones del outro. Buenos Aires. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales Centro de Estudios Avanzados, Programa de Estudios Africanos: 2008.
CAPLIN, W. Classical Form. Oxford: Oxfort University Press, 1998. 307 p.
CASTRO, Yeda Pessoa de. Marcas de africanias no português brasileiro. Interdisciplinar: Revista de Estudos em Língua e Literatura. Itabaiana (SE): v. 24, p.11-24, 2016.
CONCEIÇÃO, V. G. Marrabenta, uma produção periférica de nacionalidade moçambicana. Revista Articulando e produzindo saberes, v. 6,. Goiânia, 2021.
FERNANDEZ, A. P. La binarización de los ritmos ternários en America Latina. Habana: Casa de las Americas, 1986. 139 p.
FRIEBERG, A.; SUNDSTRÖM, A. Swing ratios and ensemble timing in jazz performance: evidence for a common rythmic pattern. Music Perception, v. 19, nº 3, p.333-349, 2002.:
GLISSANT, E. Introdução a uma poética da diversidade. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2005.
GONZALEZ, L. A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo Brasileiro, nº 92/93, p.69-82, janeiro/junho, 1988.
LERDAHL, F.; JACKENDOFF, R. A Generative Theory of Tonal Music. Cambridge: The MIT Press, 1983. 368 p.
LIST, George. The musical significance of transcription. Ethnomusicology, v. 7, nº 3, p.193-197, 1963.
MENEZES, E. V. Mário de Andrade e a Síncopa do Brasil. 2016. 311f. Tese (Doutorado em Musicologia) – Programa de Pós-Graduação em Música, Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, 2016.
NETTL, B. The study of ethnomusicology: thirty-one issues and concept. Champaign: University of Illinois Press, 2005. 576 p.
PRISTA, A. Songbook Fany Mpfumo. Maputo: Khuzula, 2018. 113 p.
SEEGER, Charles. Prescriptive and Descriptive Music-Writing. The Musical Quarterly, Oxford, v. 44, nº 2, p.184-195, 1958.
TOUSSAINT, G. T. The geometry of musical rhythm: what makes a “good” rhythm good? New York: CRC Press, 2013. 336 p.