NARRATIVAS SOBRE A MULHER EM FANY MPFUMO: possibilidades de resignificação de género

  • Esmeralda Mariano Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Universidade Eduardo Mondlane (UEM)
  • Hélder Malele Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Universidade Eduardo Mondlane (UEM)
Palavras-chave: Identidades, linguagem, música moçambicana, relações de género

Resumo

Como bem aponta esta edição especial, “Percepções sobre Fany Mpfumo: a sociedade na sua música”, a nossa proposta aflora as narrativas sobre a mulher e as dinâmicas das relações na esteira deste ícone da música moçambicana. Explora-se a interface entre a produção musical e os problemas sociais e humanos enunciados, em perspectivas teóricas culturais e da interseccionalidade, fenomenológicas e das correntes críticas de género. Procura-se compreender a contribuição social do músico, as narrativas dominantes das suas músicas, as reinterpretações e as representações sociais da mulher. Com base em métodos e técnicas qualitativas, como entrevistas online com músicos intérpretes e produtores, consulta documental e jornalística, analisamos os significados das letras de quatro músicas do autor. Os resultados da análise das narrativas da música, revelam a exaltação e sublimação da mulher, ao invés da subordinação feminina. A mulher representada pelo artista, não é uma categoria social fixa, sem poder e sem agência, mas é um ser híbrido, como o músico e sua música, em permanente processo de negociação dos seus papéis sociais. As obras de Fany Mpfumo, contrastam as qualidades tóxicas da masculinidade e possibilitam uma construtiva resignificação de género, para além dos estereótipos de género. Tradução, compreensão, análise de conteúdo e pesquisa são necessários e recomendados como reveladoras da valorização cultural, dos sentidos e das múltiplas formas do ser mulher, do ser homem, e da construção das identidades.

Referências

AMADIUME, I. African Women: voicing feminisms and democratic Futures. Macalester International”, v. 10, n. 9, p. 47-68. 2001.
BAHULE, C. O uso das Languages of Wider Communication na música moçambicana”. Revista Internacional em Língua Portuguesa, n. 32. 2017.
BARROS, D. D.; MARIANO, E. Experiências que tangenciam o (in)visível e a mobilidade: etnografias em diálogo. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 27, n. 3, e66982. DOI: 10.1590/1806-9584-2019v27n366982. 2019.
CASIMIRO, I. C; ANDRADE, X. Critical Feminism in Mozambique: Situated in the Context of our Experience as Women, Academics and Activists” In: African feminist politics of knowledge Tensions, Challenges, Possibilities. Edited by Akosua Adomako Ampofo and Signe Arnfred. Nordiska Afrikainstitutet. 2009.
CORNWALL, A. & LINDISFARNE, N. Dislocating masculinity: comparative ethnographies. Taylor & Francis e-Library, 2005.
FILIPE, E. P. V. “Where Are the Mozambican Musicians? Music, Marrabenta, and National Identity in Lourenço Marques, Mozambique, 1950s- 1975.” Thesis (PhD in History) – University of Minnesota, 2012.
GASPARETTO, V.; AMÂNCIO, H. Género e feminismos em África: temas, problemas e perspectivas analíticas. Simpósio Temático: leituras e olhares de (e) sobre África em perspectiva de género. Trajetórias, construções e percursos. Anais do 13o Mundos de Mulheres e Fazendo Género 11. Universidade Federal de Santa Catarina. 2017.
HONWANA, L. B. A velha casa de madeira e zinco. Alcance Editores. Maputo. 2017.
JAHN, J. M. La civilta Africana Moderna. Giulio Einaudi (Ed). Torino. 1961.
LARANJEIRA, R. A Marrabenta: sua evolução e esterilização. 1950-2002. Maputo: Minerva Central, 2014
MACIA, M.; Maharaj, P. & Gresh, A. Masculinity and male sexual behaviour in Mozambique. Culture, Health and Sexuality. v.13, n.10, p. 1181–1192. 2011.
MALAUENE, D. M. A history of music and politics in Mozambique from the 1890s to the present. Thesis (PhD in History) – The College of Liberal Arts of the University of Minnesota. 2021.
MARIANO, E.; SLEGH, H., & ROQUE, S. Men in the city: Changing gender relations and masculinities in Maputo, Mozambique. In Salahub, J. E., Markus Gottsbacher, John de Boer (org.), Social Theories of Urban Violence in the Global South: Towards Safe and Inclusive Cities. Nova York: Routledge, IDRC, 32-48. 2018.
MOUTINHO, L. Diferenças e desigualdades negociadas: raça, sexualidade e género em produções. Cadernos pagu, v.42, 201-248. 2014.
NELSON, S. C. 22 Pecados fatais da (os) música (os) moçambicana (os). 2018. Disponível em www.lupanews. Acessado: 21/02/2021
PEREIRA, M. S. Colonialismo-tardio, pós-colonialismo e cultura popular nos subúrbios de Maputo: um olhar a partir da marrabenta (1945-1987)”. Africana Studia, n. 34, Edição do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, pp. 95-115, 2020.
RAIMUNDO, I. M. The interaction of gender and migration household relations in rural and urban Mozambique. In Egodi Uchendu (org.) Masculinities in Contemporary Africa, pp 191-208. Dakar, CODESRIA Gender Series 7. 2008.
SITOE, T. H. Para Além de uma Escolha: Da música de crítica e protesto social às identidades político-partidárias em Moçambique. Cadernos de Estudos Africanos, n.35, 135-148. 2018.
SongBook Fany Mpfumo. Colecção Tempo dos Tocadores. Kuzula. 2018.
SHUKER, R. Popular Music: The Key Concepts. Routledge. 1998.
TAELA, K.; GONÇALVES, E.; MAIVASSE, C. & MANHIÇA, A. Shaping Social Change with Music in Maputo, Mozambique. Policy Briefing. Institute of Development Studies. Issue 173. 2021.
Publicado
2025-04-17