A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NAS COMPOSIÇÕES MUSICAIS DE FANY MPFUMO

  • Marlino Eugénio Mubai Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Universidade Eduardo Mondlane (UEM)
  • Mauro Armando Adelino Manhanguele Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Universidade Eduardo Mondlane (UEM)
Palavras-chave: Fany Mpfumo, Moçambique, mulher, música, sociedade em transição

Resumo

Fany Mpfumo é certamente um dos músicos mais emblemáticos de Moçambique, sendo, para alguns, o Rei do estilo marrabenta. As suas músicas são conhecidas pelo seu caráter curto, simples, repetitivo, humorístico e vibrante. Passados mais de 30 anos após a morte deste artista, as suas músicas continuam a encantar os amantes da música moçambicana e a inspirar novas gerações de artistas. Todavia, do ponto de vista de investigação científica sobre a sua vida e obra, ainda há muito trabalho por fazer.  Tendo em mente que Fany Mpfumo viveu no contexto de transição do colonialismo para a independência, este artigo se baseia no método histórico, revisão da literatura, análise de letras, ritmo e melodias de músicas selecionadas para estudar a representação da mulher na música de Mpfumo. O artigo parte da premissa de que apesar de ter vivido num contexto de objectificação da mulher, um olhar atento à música de Mpfumo revela uma visão complexa sobre o lugar da mulher na sociedade moçambicana. Por um lado, Mpfumo exalta a relevância social da mulher. Por outro, ele é muito crítico às mudanças comportamentais compreendidas como desviadas dos padrões socioculturais da época. Tendo se afirmado num período transitório entre um modernismo conservador colonial e um radicalismo nacionalista de carácter marxista-leninista, a produção musical de Fany Mpfumo revela a experiência de vida do artista e sua imersão no contexto político e sociocultural em que viveu. Assim, a produção musical de Fany Mpfumo revela o imaginário da sociedade moçambicana em transição sobre o papel e o lugar da mulher na sociedade.

Referências

ANANIAS, I., ABREU, P. Na nossa canção só a mulher é que peca? Jornal Notícias, Maputo, 24 de nov. 1983.
BRETTHAUER, B.; ZIMMERMAN, T.; BANNING, J. A Feminist Analysis of Popular Music. Journal of Feminist Family Therapy, v. 18, n. 4, p. 29-51, 2007.
CASIMIRO, I., ANDRADE, X. Construindo uma teoria de género em Moçambique. Estudos Moçambicanos, v. 11, n. 12, p. 93-110, nov., 1992.
CASIMIRO, I. Samora Machel e as relações de género. Estudos Moçambicanos, v. 21, p. 55-84, 2005.
CHARI, T. Representation of Women in Male-produced “Urban Grooves” Music in Zimbabwe. Muziki: Journal of Music Research in Africa, v. 5, n.1, p. 92-110, 2008.
CHIWESHE, M. K., BHATASARA, S. ‘Ndezve Varume Izvi: Hegemonic Masculinities and Misogyny in Popular Music in Zimbabwe. Africa Media Review, v. 21, n. 1-2, p. 151–170, 2013.
COVANE, L. O impacto do trabalho migratório em Gaza: vozes de mineiros, suas esposas e de autoridades locais. Maputo: Universidade Nachingwea, 2020.
FILIPE, E. P.V. “Where are the Mozambican Musicians?” Music, Marrabenta, and Nation Identity in Lourenço Marques, Mozambique, 1950s-1975. Michigan: Copyright ProQuest, UMI Dissertation Publishing, 2012.
FILMÃO, E. J. A imagem da Mulher em canções da música ligeira na Beira, 1975-1989: contribuição ao estudo das literaturas marginais. Estudos Moçambicanos, v. 11, n. 12, p. 145-182, nov., 1992.
GARCIA, R. M., SANTANA, W. K. F. objectivação da mulher na música brasileira: perspectivas discursivas com base nos estudos de género. Macabéa, v. 9, n. 3, p. 440-457, jul./set., 2020.
GUILLOREL, E.; HOPKIN, D.; POOLEY, W. (eds.). Rhythms of Revolt: European Traditions and Memories of Social Conflict in Oral Culture. New York: Routledge, 2018.
HERBERT, T. Social History and Music History. In: CLAYTON, M., HERBERT, T., MIDDLETON, R (eds.). The Cultural Study of Music: a Critical Introduction. New York: Routledge, 2003. p. 146-157.
KRAMER, L. Subjectivity Rampant! Music, Hermeneutics and history. In: CLAYTON, M., HERBERT, T., MIDDLETON, R (eds.). The Cultural Study of Music: a Critical Introduction. New York: Routledge, 2003. p. 124-135.
LARANJEIRA, R. A Marabenta: sua evolução e estilização, 1950-2002. Maputo: Minerva Print, 2014.
MACHEL, S. M. A libertação da mulher é uma necessidade da revolução, garantia da continuidade, condição do seu triunfo. Maputo: Frelimo, 1979.
MANJATE, S. Mulher pecadora é uma utopia. Jornal Notícias, Maputo, 4 de jan. 1984.
MATUSSE, S. Na canção só a mulher é que peca? Não! Não é só a mulher que peca. Jornal Notícias, Maputo, 21 de dez. 1983.
MATUSSE, S. A longa estória da moda Xicavalo. Maputo: CIEDIMA, 2009.
MATSINHE, A. M. Música popular e identidade: subsídios para o estudo da identidade na música de Fanny Mpfumo (1976-1986). 2005. Trabalho de Fim de Curso (Licenciatura em História) Universidade Eduardo Mondlane, Faculdade de Letras e Ciências Sociais, 2005.
MORAES, J. G. História e música: canção popular e conhecimento histórico. Revista Brasileira de História, v. 20, n. 39, p. 203-221, 2000.
NAPOLITANO, M. História e música: história cultural da música popular. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
PRISTA, A. (Org.). Songbook Fany Mpfumo. Maputo: Khuzula, 2018.
SCHILLER, M. Soundtracking Germany: Popular Music and National Identity. London: Rowman & Littlefield, 2018.
SCHWALBACH, J. C. New cultural politics and popular music in post-colonial Mozambique (1975-1986). 2002. Dissertação (Mestrado em Etnomusicologia). Universidade de Londres: School of Oriental and African Studies, 2002.
SHEPHERD, J. Music and Social Categories. In: CLAYTON, M., HERBERT, T., MIDDLETON, R (eds.). The Cultural Study of Music: a Critical Introduction. New York: Routledge, 2003.
SUCH, J. R. C. O feminino nas canções dos Beatles: uma possível análise de género e música no contexto da contracultura (década de 1960). Revista Mais que Amelias, p. 1-14, 2016.
SOPA, A. A alegria é uma coisa rara. Subsídios para a história da música popular urbana em Lourenço Marques (1920-1975). Maputo: Marimbique, 2014.
TAGG, P. Analyzing Popular Music: Theory, Method and Practice. Popular Music, n. 2, p. 37-65, 1982.
TRACEY, Hugh. Chopi musicians: their music, poetry, and instruments. London: Oxford University Press, 1970.
VAIL, L.; WHITE, L. Plantation protest: the History of a Mozambican Song. Journal of Southern African Studies, v. 5, n. 1, p. 1-25, oct., 1978.
Publicado
2025-04-17