POR UMA CIDADANIA DA INFÂNCIA EM MOÇAMBIQUE: Investigação com crianças e políticas públicas de educação

  • Hélder Pires Amâncio Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Palavras-chave: Cidadania da infância, investigação com crianças, Moçambique, políticas públicas de educação

Resumo

O objectivo deste trabalho é explorar as contribuições das pesquisas com crianças e suas implicações para as políticas públicas de educação em Moçambique. Esta reflexão é feita com base na literatura do campo dos Estudos da Infância e da Criança e nas pesquisas recentes com crianças, desenvolvidas em Moçambique. Procuro responder à pergunta: o que os fazedores de políticas públicas de educação em Moçambique podem aprender a partir da investigação com crianças? Considero que há várias lições que os formuladores dessas políticas podem tirar da investigação com crianças. Porém, faço referência a duas fundamentais: a primeira delas é que as crianças (e jovens) têm uma palavra a dizer (e dizem) sobre as decisões tomadas em relação às políticas da educação no país e estas devem ser ouvidas ou melhor escutadas; a segunda, que decorre da anterior, é que o direito de participação das crianças (cidadania) constitui um ponto fulcral da afirmação do reconhecimento delas como seres sociais competentes e plenos. Nesse sentido, escutá-las no interior das instituições sociais não é apenas um princípio metodológico de acção adulta, mas uma condição política que favorece o diálogo intergeracional de partilha de saberes e poderes.

Referências

AMÂNCIO, H. Da casa à escola e vice-versa: experiências de início escolar na perspectiva de crianças em Maputo. 2016. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Curso de Pós-Graduação em Antropologia Social, UFSC, 2016.
CHRISTENSEN, P.; & JAMES, A. Pesquisando as crianças e a infância: culturas da comunicação. In: In: CHRISTENSEN, P.; ALLISON, J. Investigação com crianças: perspetivas e práticas. Porto: Ediliber, 2005. Pp.XVII – XX
COHN, C. Antropologia da Criança. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
COLONNA, E. Crianças que cuidam de crianças: uma perspectiva de gênero. Maputo: CIEDIMA, 2014.
COLONNA, E. Eu é que cuida da minha irmã. Vida quotidiana das crianças na periferia de Maputo. Tese ( Doutoramento em Estudos da Criança -ênfase em Sociologia da Infância) - Curso de Pós-Graduação em Estudos da Criança -ênfase em Sociologia da Infância, Universidade do Minho, 2012.
CORSARO, W. A. Entrado no campo, aceitação e natureza da participação nos estudos etnográficos com crianças pequenas. Educação & Sociedade, v. 26, n.91, p 443-464, 2005.
CORSARO, W. Sociologia da Infância. Porto Alegre: Artmed, 2011
DEMARTINI. Z. Infância, pesquisa e relatos orais. In: FARIA, A; DEMARTINI. Z; PRADO, P. (Org.). Por uma cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças. 3.ed. Campinas-SP: Autores Associados, 2009.
DI GIOVANI, G. As estruturas elementares das políticas públicas. Caderno de Pesquisa, n. 82. Campinas: UNICAMP, 2009
DI GIOVANI, G.; & NOGUEIRA, M. A. Dicionário de políticas públicas. 3ª ed. São Paulo: UNESP, 2018
DORNELLES, L. V.; FERNANDES, N. Estudos da criança e pesquisa com crianças: nuances luso-brasileiras acerca dos desafios éticos e metodológicos. Currículo sem Fronteiras, v. 15, n. 1, p. 65-78, 2015.
FERNANDES, N. Nota introdutória. In: CHRISTENSEN, Pia & JAMES, Allison. (Org.). Investigação com crianças: perspectivas e práticas. Porto: Ediliber, p.VII-IX, 2005
FRANCISCO. A. Prefácio. In: COLONNA, E. Crianças que cuidam de crianças: uma perspectiva de gênero. Maputo: CIEDIMA, 2014.
HARDMAN, C. Can there be an Anthropology of Children? Childhood, v.8, p.501-516, 2001.
HIRSCHEFELD, L. Why don't anthropologists like children? American Anthropologist, v.104 , n.2, p.611-627, 2002.
ITURRA, R. Epistemologia da infância: ensaio de Antropologia da Educação. Eduação, Sociedade e Cultura, n.17, p.135-153, 2002
JAMES, A.; & JAMES, A. Key concepts in childhood studies. London: Sage Publications Ltd, 2008
KEHILY, M. J. An introduction to childhood studies. Maidenhead. Londo: Open University Press, 2004
LANGA. P. Prefácio. In: Macamo, E. Sociologia Prática: como alguns sociólogos pensam. Maputo: UEM, 2016.
MACAMO, E. Sociologia Prática: como alguns sociólogos pensam. Maputo: UEM, 2016.
MARCHI, R. C. As teorias da socialização e o novo paradigma para os estudos sociais da infância. In: Educação e Realidade, v.34, n.1, p. 227-246, 2009.
NGOENHA, S. Estatuto e Axioligia da educação: o paradigmático questionamento da missão suíça. Maputo: UEM, 2000.
OSÓRIO, C.; CRUZ & SILVA, T. Buscando sentidos: género e sexualidade entre jovens estudantes do ensino secundário, Moçambique. Maputo: WLSA, 2008.
PALME, M. O significado da escola: repetência e desistência na escola primária moçambicana. Maputo: INDE, 1992
PASTORE. M. Sim! Sou criança eu! Dinâmicas de socialização e universos infantis em uma comunidade moçambicana - Dissertação ( Mestrado em Terapia Ocupacional) – Curso de Pós-Graduação em Terapia Ocupacional, Universidade Federal de São Carlos. São Carlos: UFSCar, 2015.
PIRES, F. Pesquisando crianças e infâncias: abordagens teóricas para o estudo das (e com as) crianças. Cadernos de campo, n. 17, p. 1-348, 2008.
PROUT, A. Foreword. In: CHRISTENSEN. P. & JAMES, A. Research with children: perspectives and practices. London: Falmer press, 1999.
PUNCH, S. Childhoods in the Majority World: Miniature or Tribal Children? Sociology, v.37, n.2, p. 277–295, 2003.
PUNCH, S. Research with Children: The Same or Different from Research with Adults? Childhood, v.9, n.3, p. 321-341, 2002.
QUEIROZ, M. I.. Educação como forma de colonialismo. In: Cadernos Ceru v. 25, n. 1, 2014
SARMENTO, M. Crianças, educação e cidadania ativa. Perspectiva, v. 23, n. 01, p. 17-40, jan./jul., 2005
SARMENTO, M. Estudos da criança como campo interdisciplinar de investigação e conhecimento. Interacções n. 10, p.1-5, 2008.
SARMENTO, M. J. & PINTO, M. As crianças e a infância: definindo conceitos, delimitando o campo. SARMENTO, M. J.; PINTO, M. (Org.). As crianças, contextos e identidades. Braga: Ed. Bezerra, 1997.
SARMENTO, M.; SOARES, N.; TOMAS, C. Participação Social e cidadania activa das crianças. In: IV Encontro Internacional do Fórum Paulo Freire de 19 e 22 de setembro de 2004.
SARMENTO, M..; FERNANDES, N.; TOMAS, C. Poplíticas públicas e participação infantil. Educação, Sociedade e Cultura, n.25, p. 183-206, 2007.
SHORE, C. La antropología y el estudio de la política pública: reflexiones sobre la formulación de las políticas. Antípoda, Revista de Antropología y Arqueología, n.10, pp. 21-49, 2010
SZUTUTMAN, R.. Por uma antropologia da criança (Sobre o livro Antropologia da Criança, de Clarice Cohn). In: Trópico, 2005.
TASSINARI, A. M. I Produzindo corpos ativos: a aprendizagem de crianças indígenas e agricultoras através da participação nas atividades produtivas familiares. Horiz. antropol. 2015, v.21, n.44, pp.141-172.
TASSINARI, A. M. I. Múltiplas infâncias: o que a criança indígena pode ensinar para quem já foi à escola ou a sociedade contra a escola. In: 33º Encontro Anual da Anpocs, Caxambu – MG, 2009
TASSINARI, A. M. I. O que as crianças têm a ensinar a seus professores? Revista Ilha, Florianópolis: UFSC, 2011.
TOMÁS, C. Participação não tem idade: participação das crianças e cidadania da infância. Contexto e Educação, n.78, 2007
VIEIRA, R. Etnobiografias e descoberta de si: uma proposta da Antropologia da Educação para a formação de professores para a diversidade cultural. Pro-Posições, v. 24, n. 2, p. 109-123, 2013
WELLS, K. Childhood in a Global Perspective. 2ª ed. Cambridge: Polity Press. 2015.
Publicado
2025-04-18