VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E O PAPEL DAS CRENÇAS CULTURAIS NA SUA OCORRÊNCIA E PERSISTÊNCIA NA PERSPECTIVA DAS VÍTIMAS E AGRESSORES: um estudo fenomenológico

Autores

  • Isália Licença Mate Faculdade de Educação, Universidade Eduardo Mondlane (UEM)
  • Mohsin Sidat Faculdade de Educação, Universidade Eduardo Mondlane (UEM)
  • Fernando Mitano Universidade de Lúrio (UniLurio)

Palavras-chave:

Crenças culturais, Fenomenologia, Percepções, Violência doméstica

Resumo

A violência doméstica é um problema de Saúde Pública em todo o mundo, sendo as crenças culturais tidas como um dos seus factores. No entanto, tais crenças não têm sido explícitas e nem se descreve como é que a sua influência sobre a violência doméstica ocorre. O artigo analisa as experiências e percepções sobre a violência doméstica e o papel das crenças culturais na sua ocorrência e persistência, na perspectiva das vítimas e dos agressores. O estudo foi de natureza qualitativa e baseado na perspectiva fenomenológica, tendo recorrido à entrevista semi-estruturada como instrumento de recolha de dados. Participaram voluntariamente no estudo oito casais. Os resultados demonstram que as crenças culturais desempenham um papel significativo na ocorrência e persistência da violência doméstica. São disso ilustrativos relatos em que os agressores assumem ter recorrido à violência alegadamente porque a sua vítima não lhes dá água para banho; ou porque não lhes lava a roupa e/ou porque a vítima questiona sobre algum comportamento estranho seu. O estudo apurou ainda que, apesar dos danos causados, a violência doméstica fundada nesse tipo de crenças ainda é aceite pelas vítimas, desde que o agressor cumpra com alguns dos seus deveres, como o de trazer sustento para a família. Conclui-se ser urgente uma intervenção integrada, envolvendo vários serviços afins, no sentido de prevenir e mitigar o sofrimento decorrente da violência doméstica baseada em crenças culturais, e emponderar as mulheres, homens, crianças e a comunidade no geral, para o combate a este fenómeno, em prol de um desenvolvimento são das famílias moçambicanas.

Biografia Autor

Isália Licença Mate, Faculdade de Educação, Universidade Eduardo Mondlane (UEM)

<br data-mce-bogus="1">

Referências

AIRHIHEMBUWA, C. O. Healing Our Differences: The Crisis of Global Health and the Politics of Identity. United States of America: Rowman & Littlefield Publishers, INC, 2007.

ALFANE, R. Educação Cívica na Sociedade Tradicional. Maputo: Ministério da Administração Estata, 1996.

ANDRADE, C. C.; e HOLANDA, A. F. Apontamentos sobre pesquisa qualitativa e pesquisa empírico-fenomenológica. Campinas. Estudos de Psicologia. v.27, n.2. p. 259-268, Abril-Junho 2010.

ARGENTO, H. Teoria Sócio-Construtivista ou Sócio-Histórica. (s.d.). Disponível em: http://www.robertexto.com/archivo1/socio_construtivista.htm. Acessado em 03/10/11.

BALLONE, G. J.; e ORTOLANI, I.V. Violência Doméstica. 2003. Disponível em: http://www.psiqweb.med.br/infantil/ violdome.html. Acessado em 20/04/07.

BANDURA, A. Social Learning Theory. Nova Iorque: Prentince-Hall, 1977.

BAZILASHE, J. B. O Lugar das Crenças Locais no Modelo Biomédico de Tratamento de Doenças Mentais. Maputo. Moçambique. (comunicação pessoal, 29 de Outubro, 2010).

CABRAL, F.; e DÍAZ, M. Relações de Género. In Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte. Afectividade e Sexualidade na Educação: Um novo olhar. Belo Hirizonte: Gráfica e Editora Rona Ltd, 1998. p. 142-150.

CASIQUE, L. C. e FUREGATO, A. R. F. Violência Contra Mulheres: Reflexões Teóricas. Rev Latino-am, v.14, n.6, p. 950-956, 2006.

CHIZIANE, P. Niketche. 7ª ed. Maputo: Ndjira, 2010.

De ASSIS, J. T. et al. Medicina Tradional no Brasil e em Moçambique: definições, apropriações e debates em Saúde Pública. O Público e o privado, n. 31, Jan/Jun, 2018.

De SOUSA, A. R. et al. Violência Conjugal: discursos de mulheres e homens envolvidos em processo criminal. Escola Anna Nery. v.22, n.1. 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ean/v22n1/ pt_1414-8145-ean-2177-9465-EAN-2017-0108.pdf. Acessando em: 03 Março 2019.

FERNÁNDEZ, M. Cultural Beliefs amd Domestic Violence. New York Academy of sciences, v.10,b.1196, p.250-260, 2006.

FERNANDO, D. A Organização Social na Sociedade Tradicional. Maputo: Ministério da Administração Estatal, 1996.

FLAVELL, J. H.; MILLER, H. P.; e MILLER, S. A. Desenvolvimento cognitivo. Porto Alegre: Artmed, 1999.

FONTAMELLA, B. J. B.; RICAS, J. e TURATO. Amostragem por saturação, em pesquisas qualitativas em em Saúde: contribuições teóricas. Cadernos de saúde Pública, Rio de Janeiro, v.24, n.1, p.17-27, 2008.

GIORGI, A. Sketch of a psychological phenomenological method. In A. Giorgi (org.). Phenomenology and psychological research. Pittsburg: Duquesne, p. 8-22, 1985.

GIORGI, A. Difficulties Encountered in the Application of the Phenomenological Method in the Social Sciences. Análise Psicológica, v.3, n.XXIV, p.353-361, 2006.

GROENEWAL, T. A Phenomenological Research Design Illustrated. International Jounal of Qualitative Methods, v.3, n.1, p.42-55, 2004. Disponível em: http://www.ualberta.ca/~iiqm/backissues/3_1/html/groenewald.pdf. Acessado em: 15 Setembro 2015.

HOLANDA, A. Questões sobre pesquisa qualitativa e pesquisa fenomenológico. Análise Psicológica, v.3, n.XXIV, p.363-372, 2006.

JETHÁ, E. A. R. Avaliação da qualidade dos serviços de atendimento às vítimas de violência doméstica nas unidades sanitárias da Cidade de Maputo. Maputo: Universidade Eduardo Mondlane, 2007.

MOÇAMBIQUE. Lei 29/2009 de 29 de Setembro de 2009. Lei da Violência Doméstica contra a Mulher. Boletim da República de Moçambique, série I, nº 38.

MANGUANA, F. et al. Estatística de Violência doméstica, 2017. Instituto Nacional de Estatística. Maputo. Mocambique, 2018.

MATTA, I. Psicologia do desenvolvimento e da Aprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta, 2001.

MEJIA, M. et al. Não sofrer caladas: violência contra mulheres e crianças denúncia e gestão de conflitos. Maputo: Women and Law in Southern Africa, 2004.

MINISTÉRIO DO INTERIOR. Relatório anual. Maputo. Moçambique, 2008.

MINISTÉRIO DO INTERIOR. Relatório anual. Maputo. Moçambique. 2010.

MWAMWENDA, T. S. Psicologia educacional: uma prespectiva africana. Maputo: Texto Editores, 2006.

ONU. Estratégias de combate à violência doméstica, manual de recursos. Lisboa: Direcção Geral da Saúde, 2003.

OSÓRIO, C. Identidades de género e identidades sexuais no contexto dos ritos de iniciação no Centro e Norte de Moçambique. Outras Vozes, nº 43-44. 2013.

OSÓRIO, C. Ritos de Iniciação: um debate necessário. 2008. Disponível em: http://www.wlsa.org.mz/?blogviewid=18&target= acessado aos 13/09/12. Acessado em: 13 Setembro 2012.

OSÓRIO, C. et al. Poder e violência: homicídio e femicídio em Moçambique. Maputo. Moçambique: Women and Law in Southern Africa, 2001.

PAIVA, A. c.; SANTOS, V. R. P. e SANTOS, S. M. Violência Doméstica e as Implicações na Saúde Física e Emocional de Mulheres: Interferências de Enfermagem. In XI Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia: Gestão do Conhecimento para a Sociedade, SEGeT. 2014. Disponível em: https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos14/23020192.pdf. Acessado em: 06 Abril 2019.

PAPALIA, D. E. e OLDS, S. W. Desenvolvimento Humano. 7ª ed. Porto Alegre: ARTMED, 2000.

ROMAGNOLI, R. C. A violência contra a Mulher em Montes Claros. Barbaroi, Santa Cruz do Sul, v.1, n.43. p.27-47, jan/jun 2015. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/barbaroi/article/viewFile/4815/4407%3E. Acessado em: 30 Março 2019.

SADALA, M. L. A. A fenomenologia como método para investigar a experiência vivida: Uma perspectiva do pensamento de Husserl e de Merleau-Ponty. Botucatu. 1993. Disponivel em: http://www.sepq.org.br/IIsipeq/anais/pdf/gt1/12.pdf. Acessado em: 28 Maio 2011.

SHAMU, S. et al. A systematic review of African studies on intimate partner violence against pregnant women: prevalence and risk factors. PLoS One, v.6, n.3, 2011.

Teles, N.; e Brás, E. J. Género e direitos humanos em Moçambique. Maputo: Universidade Eduardo Mondlane, 2010.

TRIDAPALLI, A. L. et al. Variáveis e metodologias no estudo do homicídio conjugal. Arquivos Brasileiros de Psicologia, Rio de Janeiro, v.70, n.2, p.186-203, 2018.

WLSA. Outras Vozes. Maputo. DC: Autor, 2006.

WHO. Education for health: A manual on health education in primary health care. Geneva: DC: Autor, 1988.

WHO. Multi-country study on women’s health and domestic violence against women: summary report of initial results onprevalence, health outcomes and women’s responses. Switzerland. DC: Autor, 2005.

WHO. Violence prevention: the evidence. Geneva. DC: Autor, 2009.

WHO. Global and regional estimates of violence against women: prevalence and health effects of intimate partner violence and non-partner sexual violence. Geneva. DC: Autor, 2013.

ZACARÍAS, A. E. Women as Victims and Perpetrators of intimate Partner Violence (IPV) in Maputo City, Mozambique: Occurrence, Nature and Effects. Stockholm: Karolinska Institutet, 2012.

##submission.downloads##

Publicado

2020-11-20

Como Citar

Mate, I. L. ., Sidat, M. ., & Mitano, F. . (2020). VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E O PAPEL DAS CRENÇAS CULTURAIS NA SUA OCORRÊNCIA E PERSISTÊNCIA NA PERSPECTIVA DAS VÍTIMAS E AGRESSORES: um estudo fenomenológico. Revista Científica Da UEM: Série Ciências Da Educação , 2(2). Obtido de http://revistacientifica.uem.mz/revista/index.php/edu/article/view/106