A AFRICATIZAÇÃO DAS CONSOANTES LABIAIS VOZEADAS /b, v/ NO CHANGANA: uma evidência do Princípio de Contorno Obrigatório no Bantu

Autores

  • Armindo Ngunga Centro de Estudos Africanos, Universidade Eduardo Mondlane (UEM
  • Célia Adriano Cossa Universidade Pedagógica de Maputo (UPM)

Palavras-chave:

Africatização, consoante labiais, Changana, Princípio de Contorno Obrigatório

Resumo

À luz da teoria de fonologia autossegmental (Leben, 1973; 2006; 2011; Goldsmith, 1976; 2004; Odden, 1986) e da geometria de traços (Clements e Hume, 1995), este artigo analisa e descreve a africatização das consoantes labiais vozeadas no Changana como resultado do Princípio de Contorno Obrigatório (PCO). Descreve os processos fonológicos que culminam com a transformação destes sons labiais em africada lábio-alveolar [bz] durante os processos derivacionais de diminutivização e locativização de nomes. Nestes contextos, as vogais arredondadas em posição final de palavra e as vogais iniciais dos sufixos derivativos, (/a/) do sufixo diminutivo e a vogal inicial do sufixo locativo formam hiatos, pondo em causa o PCO que proíbe a adjacência de segmentos com traços idênticos. A resolução destes hiatos resulta na transformação das vogais arredondadas em posição final de palavras em semivogal lábio-velar. Através da propagação e assimilação de traços, esta lábio-velar altera as consoantes labiais vozeadas que constituem ataques da sílaba final da palavra, transformando-as em africada lábio-alveolar [bz]. Estes processos são uma prova da eficácia do PCO, o que contraria as tentativas de sua refutação (ODDEN, 1986) que motivaram o presente estudo. Os dados foram colhidos através do método filológico combinado com a introspecção entrevistas a 3 falantes nativos de três variantes do Changana, respectivamente, residentes no Distrito de Manjacaze.

Referências

ALFÂNDEGA.P. A Locativização em Cisena. In: Ngunga, A. (ed.). 2014. Temas de Gramática de Línguas Bantu I. Maputo: Centro de Estudos Africanos (CEA)-UEM, 2014.

AMARIZ, C. De M. e ALCÂNTARA, C. Da C. Análise Sincrónica e diacrónica de processos fonológicos via teoria autossegmental. Porto: XV ENPOS- Encontros de Pós-Graduação UEPEL, 2011.

BALATE, R. Jr. Negação Morfo-Tonológica Em Changana. (Tese de doutoramento em Linguística não publicada). Departamento de Linguística e Literatura, Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, 2017.

BISOL, L. Introdução a Estudos de Fonologia do Português Brasileiro. 2ª ed, Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999, pp.44-49.

BLEEK, W. A Comparative Grammar of South African Languages. Part I. Phonology. Trübner & Co., 60, Paternoster Row, London, 1862.

BLEEK, W. A Comparative Grammar of South African Languages. Part II. The Concord. Trübner & Co., 60, Paternoster Row, London, 1969.

CHOMSKY, N. e HALLE, M. The Sound Pattern Of English: Studies in Language. New York: Harper e Row, 1968.

CHOMSKY, N. Aspectos da teoria da sintaxe. Coimbra: Armênio Amado Ed., 1978.

CLEMENTS, G. Vowel Harmony in Akan: A Consideration of Stewart's Word Structure Conditions. Studies in African Linguistics, v. 15, n. 3, December, 1984.

CLEMENTS, G. N. The geometry of Phonological Features. Phonology Yearbook 2. 1985. Great Britain, 1985, pp. 225-252.

CLEMENTS, G.N. e FORD, K. C. 1979. Kikuyu tone shift and its synchronic consequences, Linguistic Inquiry, v.10, n.2, pp.179-210.

CLEMENTS, G. N e HUME, E. The internal organization of speech sounds. In: GOLDSMITH, J. Handbook of Phonological Theory. Oxford: Basil Blackwell, 1995, pp. 245-306

GOLDSMITH, J. Autosegmental phonology. Thesis (PhD in Philosophy) MIT, 1976.

GOLDSMITH, J. The aim of Autosegmental Phonology. 2004 In Theorietical Approaches. Disponível em http://hum.uchicago.edu/jagoldsm/Papers/AimsAutosegmental.pdf. Acesso em: 15/03/2013, 00:12

Guthrie, M. Comparative Bantu. Oxford: Oxford University Press, 1967-1971.

HAGBERG, L. R. An Autosegmental Theory of Stress. SIL International, SIL e-Books 3, Library of Congress, 2006.

HUALDE, J. I. El Modelo métrico y autosegmental. University of Illinois, 2005.

HYMAN, L. M. e NGUNGA, A. On the non-universality of tonal association 'conventions': evidence from Ciyao. Phonology, v.11, pp. 25-68, 1994.

Hyman, L. M. Penultimate Lengthening in Bantu: Analysis and Spread. In: UC Berkeley Phonology Lab Annual Report. 2009. University of California, Berkeley (Presented at the Third Conference on Bantu Linguistics, Tervuren, March 25-27, 2009)

INE. IV Recenseamento Geral da População e Habitação 2017: Resultados definitivos- Moçambique. 2019

KATAMBA. An Introduction to Phonology. New York: Longman, 1989.

KOELLE, S. Polyglotta Africana ora Comparative Vocabulary of Nearly Three Hundred Words and Phrases, in One Hundred Distinct,African Languages. London: Church Missionary House, 1854.

LAKATOS, E. M. e MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 6ª ed. 5ª reimpressão, São Paulo:Atlas, 2007.

LANGA, D. O Aspecto no Passado Afirmativo na Morfologia Verbal do Changana.

(Tese de Mestrado não publicada). Maputo: Faculdade de Letras e Ciências Sociais (FLCS). Universidade Eduardo Mondlane (UEM), 2008.

LANGA, D. Morfofonologia do Verbo em Changana. Maputo: Centro de Estudos Africanos (CEA-UEM), 2013.

LEBEN, W. R. Suprasegmental Phonology. (PhD Thesis) MIT, 1973

LEBEN, W. R. Rethinking Autosegmental Phonology. In Selected Proceedings of the 35th Annual Conference on African Linguistics, ed. MUGANE, J. et al., Somerville, MA: Cascadilla Proceedings Project. 2006, pp- 1-9.

LEBEN, W. R. Autosegments. 2011. In OOSTENDORP, Van M.; et al. The Blackwell Companion to Phonology. Lugar: Editora?, 2011.

LOMBARDI, L. Dahl's Law and Privative [Voice]. In: ______. Linguistic Inquiry. The MIT Press Vol. 26, No. 2, 1995, pp. 365-372. www.jstor.org/stable/4178903, accessado a: 21-07-2017 08:39 UTC

MATSINHE, S. F. Pronominal Clitics in Tsonga and Mozambican Portuguese: A Comparative Study. Thesis (PhD in Oriental and African Studies) University of London. University of London, 1998.

McCarthy, J. Features and tiers: the structure of Semitic roots. Paper presented at Brandeis University. 1986a.

NELIMO. I Seminário Sobre A Padronização da Ortografia das Línguas Moçambicanas. Maputo: Editora Escolar, 1989.

NGUNGA, A e O. FAQUIR. (eds). Padronização da Ortografia de Línguas Moçambicanas: Relatório do III Seminário. Maputo: Centro de Estudos Africanos (CEA) – UEM, 2011

NGUNGA, A. Introdução à Linguística Bantu. Maputo: Imprensa Universitária, 2014.

NGUNGA, A. e M. C. SIMBINE. Gramática Descritiva do Changana. Maputo: Centro de Estudos Africanos (CEA) - UEM. Colecção “As nossas línguas” V, 2012.

ODDEN, D. On the Role of the Obligatory Contour Principle in Phonological Theory. Language, v. 62, n., pp. 353-383. 1986.

ODDEN, D. Kimatuumbi phonologyand morphology. MS, Ohio State University, 1989.

ODDEN, D. Tone: African Languages. In GOLDSMITH, J. (1995). Handbook of Phonological Theory. Oxford: Blackwell, 444-475, 1995.

PRADANOV, C. C. e FREITAS, E. C. D. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas de pesquisa e do trabalho acadêmico. 2ª ed. Nova Hamburgo, ASPEUR, Universidade FEEVALE, 2013.

RIBEIRO, A. Dicionário Gramatical Changana. 1ª Edição. Maputo: Edições Paulinas, 2010.

SITOE, B. e NGUNGA, A. Padronização da Ortografia de Línguas Moçambicanas: separata da língua changana. (Relatório do II Seminário). Maputo: NELIMO, 2000.

SOARES, M. F e G. N. DAMULAKIS. Do Princípio do Contorno Obrigatório e Línguas faladas no Brasil. Rev. Est. Linguística. v. 15, n. 2, pp.229-252, 2007.

YIP, M. The Obligatory Contour Principle and Phonological Rules: A Loss of Identity. Linguistic Inquiry, v. 19, n. 1, 1988. pp. 65-100. http://www.jstor.org/stable/4178575. Acessado a 21-07-2017 08:20 UTC.

WEIJER, J. Van de. Autosegmental Phonology. Leiden University, Leiden, Netherlands, 2006.

##submission.downloads##

Publicado

2021-07-22

Como Citar

Ngunga, A. ., & Cossa, C. A. . (2021). A AFRICATIZAÇÃO DAS CONSOANTES LABIAIS VOZEADAS /b, v/ NO CHANGANA: uma evidência do Princípio de Contorno Obrigatório no Bantu. Revista Científica Da UEM: Série Letras E Ciências Sociais, 2(2). Obtido de http://revistacientifica.uem.mz/revista/index.php/lcs/article/view/145