POLÍTICA LINGUÍSTICA E EXCLUSÃO NO CONTEXTO FORENSE: o caso de Moçambique

Autores

  • Eliseu Mabasso Faculdade de Letras e Ciências Sociais,Universidade Eduardo Mondlane (UEM)

Palavras-chave:

direitos humanos, exclusão, política linguística

Resumo

Os problemas decorrentes da ausência de uma definição clara de uma política linguística inclusiva num número considerável de países multilingues, sobretudo na África a sul do Sahara, têm sido um dos principais motivos que levam à exclusão de grupos falantes de línguas minoritárias, não somente no que diz respeito à sua participação massiva nos demais processos de desenvolvimento, mas, sobretudo, no domínio da justiça. Moçambique é um país multilingue que, à semelhança de muitas outras antigas colónias portuguesas, adoptou, logo após a conquista da independência nacional, o Português, língua da antiga potência colonizadora, como sua única língua oficial. A referida escolha origina a marginalização de todas as outras línguas faladas nativamente pelas demais comunidades, atribuindo-lhes epítetos depreciativos. Até a data, os países em causa não têm sido capazes de aprovar uma política linguística que possa salvaguardar os direitos humanos das pessoas com fraca ou sem nenhuma proficiência na língua oficial, especificamente quando aparecem a responder em juizo. Adoptando uma abordagem descritiva, com alguns elementos do método etnográfico, através de dois estudos de casos exemplificativos, o presente estudo procura problematizar o impacto do uso exclusivo da língua portuguesa no sistema judicial em Moçambique. Uma das conclusões a que este estudo chegou é a de que Moçambique deve aprovar uma política linguística que possa permitir que qualquer cidadão possa responder perante a justiça, na língua que melhor domina. Isto evitaria situações em que muitas pessoas se veem excluídas do sistema judicial e ficam em apuros quando procuram defender os seus direitos.

Referências

ANSAH, M. A. & DARKO, P. O. Justice in the mother tongue: the task of court interpreters in Ghanaian courts. In RALALA, K. Monwabisi e; Kaschula, Russell H. e Heydon, Georgina (ed.). New Frontiers in Forensic Linguistics: themes and perspectives in language and law in Africa and beyond. Cape Town: SUN PRESS, 2019. p. 113 – 130.

CHIMBUTANE, F.; STROUD, C. (orgs.). Educação bilingue em Moçambique: refletindo criticamente sobre políticas e práticas. Maputo: Texto Editores, 2011. 248 p.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Disponível em: https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/2572/30/DECLARA%C3%87%C3%83O%20UNIVERSAL%20DOS%20DIREITOS%20HUMANOS.pdf. Acesso em: 22 Setembro 2020.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS LINGUÍSTICOS. Disponível em: https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/ 10400.6/2572/30/DECLARA%C3%87%C3%83O%20UNIVERSAL%20DOS%20DIREITOS%20HUMANOS.pdf. Acesso em: 22 Setembro 2020.

DOCRAT, Z. & KASCHULA, R. H. Monolingual language of record: A critique of South Africa’s policy directive. In RALALA, K. Monwabisi e; Kaschula, Russell H. e Heydon, Georgina (ed.). New Frontiers in Forensic Linguistics: themes and perspectives in language and law in Africa and beyond. Cape Town: SUN PRESS, 2019. p. 71 - 112.

GIBBONS, J. Forensic Linguistics: an introduction to language in the justice system. Oxford: Blackwell Publishing, 2003. 329 p.

GLOUGIE, J. Linguistic Proficiency and Human Rights: the case for accent as a protected ground. Language and Law. v.2, n.1, p. 76-89, 2015.

GLUCKMAN, M. Ideas and procedures in African customary law. Oxford: Oxford University Press, 1966. 361 p.

GOLDFLAM, R. Silence in court! Problems and prospects in Aboriginal legal interpreting. Australian Journal of Law and Society, v.13, p. 17-53, 1995.

HEYDON, G. e MABASSO, E. The Impact of Multilingualism on Reporting Domestic Violence. Language Matters, v. 49 n.2, p. 84-106, 2018.

ISSÁ, A.C.M., et al. Código de Processo Civil (com as Alterações Introduzidas). Maputo: Unidade Técnica de Reforma Legal, 2010.

JORNAL DOMINGO. Uma cena de tribunal. Jornal Domingo, Maputo, 20 de Jun. 2010. Bula-bula, p. 10.

JORNAL ESCORPIÃO. Juíza discrimina réus. Jornal Escorpião, Maputo, 26 de Abr. 2010. Sociedade, p. 15.

KITOKO-NSIKO, E. Dogs’ languages or people’s languages? The return of bantu Languages to primary schools in Mozambique. Current issues in language planning, v. 8, n. 2, p. 258-282, 2007.

LEACH, N. Language and the right of access to procedural justice in South Africa. In RALALA, K. M.; Kaschula, Russell H. and Heydon, Georgina (ed.). New Frontiers in Forensic Linguistics: Themes and Perspectives in Language and Law in Africa and Beyond. Cape Town: SUN PRESS, 2019. p. 131-146.

LOPES, A.J. As missangas da comunicação: moçambique no espaço ibero-americano. In: CONGRESSO MUNDIAL DA COMUNICAÇÃO IBERO-AMERICANO, 2., 2014. Braga, 2014.

LOPES, A.J. A batalha das línguas: perspectivas sobre linguística aplicada em Moçambique/The battle of the languages: perspectives on applied linguistics in Mozambique. Maputo: Imprensa Universitária, 2004. 252 p.

LOPES, A.J.; SITOE, S.; NHAMUENDE, P. Moçambicanismos: para um léxico de usos do português Moçambicano. Maputo: Livraria Universitária, 2002. 161 p.

LOPES, A.J. Política linguística: princípios e problemas. Maputo: Livraria Universitária, 1997a. 74 p.

LOPES, A.J. Language policy in Mozambique: A taboo? In HERBERT, R.K. (org.). African Linguistics at the crossroads: papers from Kwakuseni. Köln: Rüdiger Koppe Verlag, p. 485-500, 1997b.

MABASSO, E. Tell us the story in your Portuguese, we can understand you: The Mozambican justice system’s dilemma in enforcement of the sole official language policy in Mozambique. In RALALA, K. et al. New Frontiers in Forensic Linguistics: Themes and Perspectives in Language and Law in Africa and Beyond. Cape Town: SUN PRESS, 2019 p. 33 - 48.

MABASSO, E. Official language, written and customary laws in Mozambican police stations. In: CONFERÊNCIA DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE LINGUISTAS FORENSES, 11., 2013. Cidade do México, 2013.

MABASSO, E. Língua oficial, direito positivo e direito costumeiro nas esquadras de Moçambique: um caso para a linguística forense. Revista Científica da Universidade Eduardo Mondlane, v. 1, n. 0, p. 40-61. 2012.

MABASSO, E. Estratégias linguístico-discursivas na investigação criminal: o caso das esquadras de Maputo. 2010. 309 f. Tese (Doutoramento em Linguística Aplicada)- Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, 2010.

MABASSO, E. Language evidence in the criminal court: the case for Rupert Maxwell Stuart. 2002. 65f. Dissertação (Mestrado em Letras) - The University of Sydney, Sydney, 2002.

MOÇAMBIQUE. Código de Processo Penal de Moçambique e Legislação Complementar de Moçambique. 2ª ed. Maputo: Colecção Universitária, 2010. 86 p.

MOÇAMBIQUE. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. Maputo: Imprensa Nacional de Moçambique, 2004. 131p.

MOÇAMBIQUE. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1990. Disponível em: https://cedis.fd.unl.pt/wp-content/uploads/2016/01/CONST-19901.pdf. Acesso em: 20 Setembro 2020.

MOÇAMBIQUE. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUE DE 20 DE JUNHO DE 1975. Disponível em: https://cedis.fd. unl.pt/wp-content/uploads/2016/02/ CONST-MOC-75.pdf. Acesso em: 22 Setembro 2020.

MULAYIM S.; LAI M. & NORMA C. Police interviews and interpreting: Context, challenges, and strategies. London: CRC, Press, 2015. 106 p.

NGUNGA, A.; BAVO, N. Práticas linguística em Moçambique: avaliação de vitalidade linguística em seis distritos. Maputo: Centro dos Estudos Africanos, 2011.

ROBINSON, C.D. Where linguistic minorities are in the majority: Language dynamics amidst high linguistic diversity. AILA Review. n.10, p. 52-70, 1993.

SOUTH AFRICA. THE CONSTITUTION OF THE REPUBLIC OF SOUTH AFRICA, 1996. Disponível em: https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/2572/30/DECLARA%C3%87%C3%83O%20UNIVERSAL%20DOS%20DIREITOS%20HUMANOS.pdf. Acesso em: 20 Setembro 2020.

TIMBANE, A.A. A justiça moçambicana e questões de interpretação forense: um longo percurso a percorrer. Language and Law, v. 3, n.2, p. 78-97, 2016.

VITORELLI, E. Linguistic minorities in court: the exclusion of indigenous peoples in Brazil. Language and, v. 1, n. 1, p. 159-173, 2014.

##submission.downloads##

Publicado

2021-04-14

Como Citar

Mabasso, E. . (2021). POLÍTICA LINGUÍSTICA E EXCLUSÃO NO CONTEXTO FORENSE: o caso de Moçambique. Revista Científica Da UEM: Série Letras E Ciências Sociais, 2(1). Obtido de http://revistacientifica.uem.mz/revista/index.php/lcs/article/view/120

Edição

Secção

Artigos