ESTE É O CORPO QUE AS MÁQUINAS ME DÃO”: hemodiálise e (re) conceptualização do corpo

Autores

  • Márcia Manhique Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Universidade Eduardo Mondlane (UEM)
  • Carla Braga Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Universidade Eduardo Mondlane (UEM)

Palavras-chave:

Corporificação, experiência vivida, hemodiálise, Moçambique, tecnologias biomédicas

Resumo

Tendo como objectivo de pesquisa compreender como a hemodiálise, enquanto tecnologia biomédica, se relaciona com os processos de experiência vivida de pessoas com doença renal crónica, este artigo foi construído no pressuposto de que as tecnologias biomédicas produzem discursos e subjectividades. A pesquisa foi feita com recurso a metodologia qualitativa e ao método etnográfico baseando-se na observação no hospital e em entrevistas etnográficas. Este método e técnicas permitiram-me aceder a fluidez da vida dos participantes e à matriz de significados que constituem o seu quotidiano terapêutico. A pesquisa de campo foi realizada na cidade de Maputo, nos meses de Janeiro a Maio de 2018. Este artigo sugere que (i) a hemodiálise alivia mas também gera sofrimento e produz nos pacientes múltiplas transformações e subjectividades; (ii) ocorre uma (re) conceptualização e (re) significação do corpo, em especial, do rim e do braço. Argumentamos que a experiência vivida no e pelo corpo na relação com o tratamento (hemodiálise) desestabiliza noções de corpo, de corpo íntegro, de normalidade e moralidade, problematiza as fronteiras entre objecto e sujeito. Através de processos de corporificação, os corpos fazem-se e (re) inventam-se no quotidiano terapêutico, transformam-se em entidades híbridas constituídas pela junção do humano e do tecnológico.

Referências

AMERICAN KIDNEY FUND. Kidney-friendly diet and foods: healthy eating for people with chronic kidney disease. 2018, Disponível em: www.kidneyfund.org./kidney-disease/chronic-kidney-disease-ckd.html. Acessado a 20 de Outubro de 2018.

ANATOMIA DO CORPO HUMANO. Principais órgãos do corpo humano e suas funções- quantos são e quais partes? 2018. Disponível em https://www.anatomiadocorpo.com/principais-orgaos-do-corpo-humano-funcoes. Acessado a 15 de Outubro de 2018.

BIEHL, J. & MORAN-THOMAS, A. Symptom: Subjectivities, Social Ills and Technologies. Annual Review of Anthropology, v.38. n.1, p. 267-288. 2009.

BIEHL, J. Antropologia do devir: psicofármacos, abandono social, desejo. Revista de Antropologia, v.51, n.2, p.413-449. 2008

BURY, M. Chronic illness as biographical disruption. Sociology of Health and Illness, v.4, n.2, p.167-182. 1982

CSORDAS, T. Embodiment as a Paradigm for Anthropology. Ethos, v.18, n.1, p.5-47, 1990.

CSORDAS, T. Fenomenologia cultural corporeidade: agência, diferença sexual, e doença. Educação, v. 36, n. 3, p. 292-305, set./dez. 2013.

EMERSON; FRETZ & SHAW. Fieldnotes in Ethnographic Research. In. EMERSON; FRETZ e SHAW. Writing Ethnographic Fildnotes. Chicago: The University of Chicago Press, pp. 1-20. 2011.

FLICK, U. Introdução a Pesquisa Qualitativa. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, pp. 50-58. 2009.

HARAWAY, D. J. Semians, Cyborgs, and Women: The Reinvention of Nature. New York: Routledge. 1991.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. Lisboa: Relógio D’Agua. 1994.

GERRITS, T. Clinical encounters. Dynamics of patient-centered practices in a Dutch fertility clinich. PhD diss. University of Amsterdam. 2008.

HEYL, B. Ethnographic Interviewing. In: ATKINSON, P., A. COFFEY, S. DELAMONT, J. LOFLAND (Eds.). Handbook of Ethnography. Washington: Sage, pp. 369-383. 2013.

LOCK, M. & NGUYEN, V. An Anthropology of Biomedicine. Malden: Wiley-Blackwell. 2010.

LOCK, M. & SHEPER-HUGHES, N. A critical approach in Medical Anthropology: rituals and routines of discipline and dissent. In: SARGENT, C. & JOHNSON, T. (Eds.). Medical Anthropology: contemporary theory and method. London: Praeger, 1996.

LOW, J. et al. The impact of end-stage kidney disease (ESKD) on close persons: a literature review. Nephology Dialysis Transplantation, v.1, n. 2. pp. 67–79. 2008.

MADDEN, R. Being Ethnographic: a guide to the theory and practice of ethnography. London, SAGE. 2010

MARINELA, Cledy. Sobreviver a doença dos rins custa mais de 10 mil meticais por mês. O País, 10 de Março de 2016.

MARSLAND, Rebecca. (Bio) Sociality and HIV in Tanzania: Finding a Living to Support a Life. Medical Anthropology Quarterly, v.26, n.4, p.470-485. 2012

MARTIN, E. A mulher no corpo: uma análise cultural da reprodução. Rio de Janeiro, Editora Garamond. 2006.

MOL, Annemarie e John LAW. Embodied Action, Enacted Bodies. The Example of Hypoglycaemia. Body e Society, 10 (2-3), pp. 43-62.2004.

PILA, Elton. Insuficiência renal: uma doença cujo tratamento não e para pobres. In: Magazine Independente, 24 de Março de 2016.

SCHUCH, Patrice. Antropologia entre o inesperado e o inacabado: Entrevista com João Biehl. Horizontes Antropológicos, v. 22, n. 46, pp. 389-423. 2006.

WANG, L. & CHEN, C. The Psychological Impact of Hemodialysis on Patients with Chronic Renal Failure. In: POLENAKOVIC, Momir (Ed.). Renal Failure - The Facts. IntechOpen. 2012. Available from: https://www.intechopen.com/books/renal-failure-the-facts/the-psychological-impact-of-hemodialysis-on-patients-with-chronic-renal-failure

OUTRAS FONTES

https://www.portaldadialise.com – Publicado em 10 de Julho de 2016. Última actualização, 10 de Março de 2017.

STV Notícias. Jornal da Noite – reportagem sobre a Saúde dos Rins. 10 de Março de 2019.

##submission.downloads##

Publicado

2021-04-14

Como Citar

Manhique , M. ., & Braga, C. . (2021). ESTE É O CORPO QUE AS MÁQUINAS ME DÃO”: hemodiálise e (re) conceptualização do corpo. Revista Científica Da UEM: Série Letras E Ciências Sociais, 2(1). Obtido de http://revistacientifica.uem.mz/revista/index.php/lcs/article/view/124

Edição

Secção

Artigos