Sedentarismo, urbanização e transição epidemiológica
Keywords:
Aptidão física, sedentarismoAbstract
O crescente aumento das doenças não transmissíveis, fenómeno associado ao crescimento de uma vida sedentária que caracteriza as cidades modernas, tem constituído uma das grandes preocupações em saúde pública. Sendo o Homo sapiens sapiens uma espécie genéticamente desenhada para uma vida activa, a revolução tecnológica e o urbanismo combinados são demasiado recentes para terem provocado qualquer adaptação genética. Assim, os hábitos de vida sedentários estão a provocar um crescimento exponencial das doenças do foro cardiovascular tendo substituído, nos países desenvolvidos, as doenças infecto-contagiosas na liderança das causas de morte. Esta preocupação conduziu ao desenvolvimento da pesquisa no domínio da associação entre a actividade física, a aptidão física e a saúde, levando a um novo conceito de aptidão física associada à saúde. A forma como este paradigma se tem equacionado nos países africanos é assunto controverso. A urbanização no continente africano tem igualmente provocado um aumento da vida sedentária mas sem que isso signifique uma melhoria das condições higiénico-sanitárias. Como consequência, a transição epidemiológica que se assistiu no século XX, nos países industrializados, não parece estar a acontecer em África. O crescimento nas cidades africanas, tem sido acompanhado por um aumento da prevalência das denominadas doenças hipocinéticas, como a obesidade e suas comorbilidades, acumulando elevada prevalência de doenças infecto-contagiosas. Estudos em Moçambique têm confirmado este fenómeno, como ilustra o aumento das taxas de sobrepeso e obesidade e a redução da aptidão física na população urbana, sem que, por isso, a prevalência de doenças infecto-contagiosas esteja a diminuir. Impõe-se, assim, o desenvolvimento de pesquisa que identifiquem as relações entre o comportamento sedentário e as variáveis de saúde, bem como as suas determinantes nos diferentes contextos, de forma a ser possível desenvolver programas de intervenção e definir políticas de saúde pública adequadas.
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